
Segundo António Rolo Duarte podemos divisar um acervo de explicações para que o populismo não obtivesse vencimento em Portugal (sendo Marinho e Pinto apontado como único caso de relativo, e efémero, sucesso):
i) características da imigração em Portugal - "ainda hoje, temos a segunda taxa de imigração mais baixa da União Europeia. A ausência de um aumento súbito de população estrangeira desde 1976, de números significativos de refugiados, e de crimes mediáticos associados à imigração (caso do terrorismo), leva os portugueses a não se sentirem ameaçados. Neste contexto, o eleitorado não sente a necessidade de um tipo de partido que politize este assunto.; Um estudo recente do Eurobarómetro concluiu que apenas 4% dos portugueses vêem a imigração como um dos principais problemas do país. É um número baixo, se tivermos em consideração que a média da UE se situa nos 26%.; os estudos de diversas agências europeias mostram que os portugueses não são menos xenófobos ou anti-imigração do que os outros europeus."
ii) passado histórico, relativo ao Estado Novo, deslegitima discurso nacionalista, ou de Império - "na memória colectiva, a nostalgia que envolve o império além-mar perde lugar para o trauma provocado pela Guerra Colonial, que deu à ideia de império uma conotação negativa. Além disso, o discurso nacionalista é hoje associado à opressão, à injustiça legal e social, e acima de tudo ao subdesenvolvimento, que caracterizaram o Estado Novo. Se os padrões de imigração já fazem o populismo da direita radical perder o sentido prático, então as narrativas na memória colectiva tornam-no também, aos olhos dos portugueses, desconfortável e indesejável do ponto de vista social".
iii) a transição histórica entre o Estado Novo e a Revolução de 1974, criando desorientação psicológica foi convidativa a grandes reservas quanto a mudanças radicais na ordem sócio-política.
iv) Portugal é um país que não teve a tradição industrial de outras nações que, no pós-II Guerra, viram as condições materiais satisfeitas e puderam dedicar-se a reivindicações pós-materiais, entre as quais questões atinentes à dimensão identitária, libertação de minorias, ecologia. Muito do mundo fabril rebelou-se contra um certo tipo de agenda que colocava no topo tais questões. A fractura não se deu em Portugal, país agrário com o Estado Novo, com sector secundário sempre relevante mesmo no que se seguiu.
v) Apesar de não poder negar-se uma diferença de valores entre o litoral urbano e o norte mais conservador, o eleitorado é passivo e ninguém foi capaz de mobilizar as massas para um confronto identitário.
vi) os partidos existentes cumprem já o desiderato de cobrirem todo o espectro ideológico, pelo que se não afigura fácil o surgimento de novos partidos.
Na íntegra, o texto no Público, aqui.
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